quinta-feira, 16 de agosto de 2012


Um espelho

Hoje me defino assim: sou um leigo católico imperfeito, pecador, e, repleto pela ânsia do conhecimento, sem impedir, é claro, passos de fé.
Ao exemplo da Virgem Maria (minha mãe e mãe de Deus), questiono os planos e mistérios divinos, mas não vou deixar de ser obediente e não dar passos de fé.

Hoje penso assim: se digo ser Cristão Católico Apostólico Romano, devo ser coerente com o que me denomino e como tal as implicações a que eu me levo. Em caso contrario, deveria buscar outra denominação, afinal, ninguém me impõe essa crença. Como diria Umberto Eco em “em que crêem os que não crêem”: “Confesso que me sinto até irritado diante dos homossexuais que querem ser reconhecidos pela Igreja, ou dos padres que querem se casar. [...] Há algumas recepções (laicíssimas) em que se exige o smoking e cabe a mim decidir se quero me submeter a um hábito que me irrita porque tenho alguma razão imperiosa para participar de tal evento ou, se quiser afirmar minha liberdade, ficar em casa”. Ou digo, de forma mais brasileira, se não gosto de futebol é um ato de vontade e inteligência meu não assistir a um jogo, seja pela televisão ou mesmo no estádio.
Sendo assim, julgo ter duas formas de o ser. A primeira é a da pura e simples fé, em que escuto o que me é orientado e aceito sem querer saber os motivos teológicos ou doutrinais dessa orientação. A segunda é a da “fé questionadora”, em que busco o sentido teológico ou doutrinal pela qual me é passado uma orientação. Como existem mistérios de fé, em alguns momentos eu terei de dar os ditos “passos de fé”, se quero ser um crente católico, em que não há uma explicação inteligível às mentes humanas.

Hoje a dinâmica do ouvir está deturpada, não se escuta o outro, a cultura da informação em demasia tem gerado uma incompreensão geral. Explico, se uma pessoa começa a dizer uma sentença matemática e há uma intervenção, a conclusão não se conclui, “dois + do... ‘três’ = X”, e ninguém se entende, mesmo tendo o conhecimento técnico. Somado ao não ouvir, temos a cultura do “deixa do jeito que está”, e do se incomodar com os que questionam. Gerando, assim, uma época em que a informação é fácil e rápida, mas ninguém quer se informar, e sem se informar são levianamente persuadidos por questionamentos, reconhecendo-os como legítimos sem buscar respondê-los dentro do que se diz acreditar. É como manipular a legislação para enganar aos que não conhecem a lei e se beneficiar da ignorância alheia.

Por conseqüente, dentro da primeira forma, hoje se encontra o hábito de católicos não concordarem com o que lhes são propostos pela Igreja. Pois, de fato, não se dão ao trabalho de ouvir os pastores a ponto de compreendê-los, não se dão ao esforço de estudar a doutrina e a teologia aplicada, não as pondo em prática. Quando questionados por outras denominações entram em crises existenciais de fé. Porque boiar sobre a água e esperar a salvação é mais fácil do que gastar energia nadando, mas boiando é mais fácil te amarrarem uma pedra no pescoço e afundar.
Hoje (digo hoje, pois ontem não foi sempre assim e amanhã não sei como será. Só tenho o hoje para aproveitar.) busco sempre continuar a nadar, mesmo em tantas vezes me ver parado. Não é por isso que cientistas, filósofos, psicólogos, pesquisadores, estudam sem cessar? Para ter convicção daquilo que se crê? Por isso hoje julgo a segunda forma a mais sadia. Porém, em tudo, é preciso se entregar à Caridade.

Um comentário:

  1. Ps.: Não me interprete mal. Isso é um desabafo. O que critíco são atitudes incoerentes. E, não ter a pretenção de que todos tenham o desejo de estudar os grandes teólogos. Seguir a fé e crer pela obediência com retidão é tanto ou mais digno do que quem busca compreender as "razões" da fé.

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