sexta-feira, 31 de agosto de 2012

"Tears stream down your face
I promise you I will learn from my mistakes" (Fix You - Coldplay)
 
 


A culpa


-A culpa é minha!
Esbravejou o doce anjo.

O fato é que a culpa nunca é de ninguém.
Não há como obter a posse da culpa.
Trazer a culpa para si é se auto-consolar.
Essas dores são resultado de tantas outras:
Afeto, ansiedade, angustia, antropofagismo próprio.

Acomodar a culpa no peito é irracionalismo natural.
É justificar a conduta falha sem pensar,
Sem querer raciocinar,
Pois, fazê-lo é ter que agir de outro modo.
Ninar a culpa é se fantasiar
Pra não revelar a face nua e crua.
Difícil é aceitar que nenhuma é despojada de imperfeições.

Revestir-se de culpa é diminuir-se diante do medo.
Medo de se arriscar e expor.
Medo de não gostar do que se pode ver.
Medo de se afogar.
Como li outrora:
“É necessário sair da ilha para ver a ilha.
Não nos vemos se não saímos de nós”.

-A culpa é minha!
Esbravejou o doce anjo.

Depois de algum tempo ele bateu suas grandes asas.
E lá do alto observou melhor.

-Olha!
Admirou aquele anjo, e sorriu.
Sorriu porque a culpa não feriu o coração.
Sorriu porque não a deixou que tomasse posse e obscurecesse sua visão.
Sorriu.

-Amanhã farei melhor!
Dulcificou o doce anjo.


R. B. Figueiredo

quinta-feira, 16 de agosto de 2012


Um espelho

Hoje me defino assim: sou um leigo católico imperfeito, pecador, e, repleto pela ânsia do conhecimento, sem impedir, é claro, passos de fé.
Ao exemplo da Virgem Maria (minha mãe e mãe de Deus), questiono os planos e mistérios divinos, mas não vou deixar de ser obediente e não dar passos de fé.

Hoje penso assim: se digo ser Cristão Católico Apostólico Romano, devo ser coerente com o que me denomino e como tal as implicações a que eu me levo. Em caso contrario, deveria buscar outra denominação, afinal, ninguém me impõe essa crença. Como diria Umberto Eco em “em que crêem os que não crêem”: “Confesso que me sinto até irritado diante dos homossexuais que querem ser reconhecidos pela Igreja, ou dos padres que querem se casar. [...] Há algumas recepções (laicíssimas) em que se exige o smoking e cabe a mim decidir se quero me submeter a um hábito que me irrita porque tenho alguma razão imperiosa para participar de tal evento ou, se quiser afirmar minha liberdade, ficar em casa”. Ou digo, de forma mais brasileira, se não gosto de futebol é um ato de vontade e inteligência meu não assistir a um jogo, seja pela televisão ou mesmo no estádio.
Sendo assim, julgo ter duas formas de o ser. A primeira é a da pura e simples fé, em que escuto o que me é orientado e aceito sem querer saber os motivos teológicos ou doutrinais dessa orientação. A segunda é a da “fé questionadora”, em que busco o sentido teológico ou doutrinal pela qual me é passado uma orientação. Como existem mistérios de fé, em alguns momentos eu terei de dar os ditos “passos de fé”, se quero ser um crente católico, em que não há uma explicação inteligível às mentes humanas.

Hoje a dinâmica do ouvir está deturpada, não se escuta o outro, a cultura da informação em demasia tem gerado uma incompreensão geral. Explico, se uma pessoa começa a dizer uma sentença matemática e há uma intervenção, a conclusão não se conclui, “dois + do... ‘três’ = X”, e ninguém se entende, mesmo tendo o conhecimento técnico. Somado ao não ouvir, temos a cultura do “deixa do jeito que está”, e do se incomodar com os que questionam. Gerando, assim, uma época em que a informação é fácil e rápida, mas ninguém quer se informar, e sem se informar são levianamente persuadidos por questionamentos, reconhecendo-os como legítimos sem buscar respondê-los dentro do que se diz acreditar. É como manipular a legislação para enganar aos que não conhecem a lei e se beneficiar da ignorância alheia.

Por conseqüente, dentro da primeira forma, hoje se encontra o hábito de católicos não concordarem com o que lhes são propostos pela Igreja. Pois, de fato, não se dão ao trabalho de ouvir os pastores a ponto de compreendê-los, não se dão ao esforço de estudar a doutrina e a teologia aplicada, não as pondo em prática. Quando questionados por outras denominações entram em crises existenciais de fé. Porque boiar sobre a água e esperar a salvação é mais fácil do que gastar energia nadando, mas boiando é mais fácil te amarrarem uma pedra no pescoço e afundar.
Hoje (digo hoje, pois ontem não foi sempre assim e amanhã não sei como será. Só tenho o hoje para aproveitar.) busco sempre continuar a nadar, mesmo em tantas vezes me ver parado. Não é por isso que cientistas, filósofos, psicólogos, pesquisadores, estudam sem cessar? Para ter convicção daquilo que se crê? Por isso hoje julgo a segunda forma a mais sadia. Porém, em tudo, é preciso se entregar à Caridade.

terça-feira, 7 de agosto de 2012


Um gesto de amor


Buscar a santidade é um gesto de amor para com Cristo. Todas as ferramentas de auxílio a essa busca: oração, jejum, comunidade, palavra, cantos; são para ajudar a amá-lo mais e melhor. Não há como amá-lo tal como ele amou, e ressuscitado ainda ama, mas buscar amá-lo com todas as forças é o mínimo e o melhor que posso fazer.

Seguir a Cristo não é apenas ser um homem bom, é subir com ele o monte, e ser um homem bom pelo caminho. Subir o monte não significa ir para o alto e sim em direção a morte humana, esvaziar-me da vontade terrena e assumir a condição de peregrino. Segui-lo é tomar minha própria cruz nos ombros e pisar sobre pedras, escutar injurias, ouvir calúnias, sentir cusparadas, consolar àqueles que choram (mesmo com a dor de tantas feridas abertas), ver o nojo na face dos outros, enxergar traições e abandonos, e ainda assim continuar a subir o monte em direção ao calvário.

Contudo, buscar a santidade é um gesto de amor para com Cristo. Pois, carregar minha própria cruz é tirar todo o mínimo peso da minha cruz que está sobre a de Cristo. Ele ainda suportará as chicotadas, os espinhos da coroa e os cravos dos pregos por conta dos pecados que ainda irei cometer.

Buscar a santidade é aceitar e carregar minha própria cruz. Errar não é ser hipócrita, é cair sob o peso das minhas fraquezas humanas, seria hipócrita se quisesse subir o monte sem carregar minha própria cruz.

Perdoa-me, Senhor, por demorar tanto a aceitar minha cruz e pelos momentos que a jogo de volta sobre ti.

A cruz é a escada para a entrada do céu que fica no alto do monte. Conseguir carregá-la até o cume é um gesto de amor para com Cristo e motivo de alegria no céu pela chegada de mais um irmão.