Um espelho
Hoje me defino assim: sou um
leigo católico imperfeito, pecador, e, repleto pela ânsia do conhecimento, sem
impedir, é claro, passos de fé.
Ao exemplo da Virgem Maria (minha
mãe e mãe de Deus), questiono os planos e mistérios divinos, mas não vou deixar
de ser obediente e não dar passos de fé.
Hoje penso assim: se digo ser
Cristão Católico Apostólico Romano, devo ser coerente com o que me denomino e
como tal as implicações a que eu me levo. Em caso contrario, deveria buscar
outra denominação, afinal, ninguém me impõe essa crença. Como diria Umberto Eco
em “em que crêem os que não crêem”: “Confesso que me sinto até irritado diante
dos homossexuais que querem ser reconhecidos pela Igreja, ou dos padres que
querem se casar. [...] Há algumas recepções (laicíssimas) em que se exige o smoking e cabe a mim decidir se quero me
submeter a um hábito que me irrita porque tenho alguma razão imperiosa para
participar de tal evento ou, se quiser afirmar minha liberdade, ficar em casa”.
Ou digo, de forma mais brasileira, se não gosto de futebol é um ato de vontade
e inteligência meu não assistir a um jogo, seja pela televisão ou mesmo no
estádio.
Sendo assim, julgo ter duas
formas de o ser. A primeira é a da pura e simples fé, em que escuto o que me é
orientado e aceito sem querer saber os motivos teológicos ou doutrinais dessa
orientação. A segunda é a da “fé questionadora”, em que busco o sentido
teológico ou doutrinal pela qual me é passado uma orientação. Como existem
mistérios de fé, em alguns momentos eu terei de dar os ditos “passos de fé”, se
quero ser um crente católico, em que não há uma explicação inteligível às
mentes humanas.
Hoje a dinâmica do ouvir está
deturpada, não se escuta o outro, a cultura da informação em demasia tem gerado
uma incompreensão geral. Explico, se uma pessoa começa a dizer uma sentença
matemática e há uma intervenção, a conclusão não se conclui, “dois + do... ‘três’
= X”, e ninguém se entende, mesmo tendo o conhecimento técnico. Somado ao não
ouvir, temos a cultura do “deixa do jeito que está”, e do se incomodar com os
que questionam. Gerando, assim, uma época em que a informação é fácil e rápida,
mas ninguém quer se informar, e sem se informar são levianamente persuadidos
por questionamentos, reconhecendo-os como legítimos sem buscar respondê-los
dentro do que se diz acreditar. É como manipular a legislação para enganar aos
que não conhecem a lei e se beneficiar da ignorância alheia.
Por conseqüente, dentro da
primeira forma, hoje se encontra o hábito de católicos não concordarem com o
que lhes são propostos pela Igreja. Pois, de fato, não se dão ao trabalho de
ouvir os pastores a ponto de compreendê-los, não se dão ao esforço de estudar a
doutrina e a teologia aplicada, não as pondo em prática. Quando questionados
por outras denominações entram em crises existenciais de fé. Porque boiar sobre
a água e esperar a salvação é mais fácil do que gastar energia nadando, mas
boiando é mais fácil te amarrarem uma pedra no pescoço e afundar.
Hoje (digo hoje, pois ontem
não foi sempre assim e amanhã não sei como será. Só tenho o hoje para
aproveitar.) busco sempre continuar a nadar, mesmo em tantas vezes me ver
parado. Não é por isso que cientistas, filósofos, psicólogos, pesquisadores,
estudam sem cessar? Para ter convicção daquilo que se crê? Por isso hoje julgo
a segunda forma a mais sadia. Porém, em tudo, é preciso se entregar à Caridade.