Sem por quê.
Escrever é um tanto mais eficaz.
Quantas vezes eu me vejo a buscar letras evasivas de outros letreiros, daqueles iluminados, em neon, que chega doem atrás dos olhos. Por exatidão ou pura completude, sempre parecem intrínsecos de verdade, nua, crua, pálida de tanta translucidez. Por agora vou me conter em esculpir minhas próprias letras, ainda que sejam vazias, obscuras, opacas; ainda que pareçam incultas, inúteis, fracas; ainda que não doam nada. Mesmo por que não são para dar e sim pra compartilhar.
Hoje resolvi escrever por só o fazer. Resolvi que por essa vontade de cumprir o dever e nada produzir me amassa por dentro, tanto quanto um papel em branco amassado por quem o quer preenchido - aquele que olha, olha, olha, até se irritar e o lançar no cesto de lixo, assim mesmo, em branco. Resolvi assim, colocar pra fora qualquer coisa que não sei o quê, mas que está aqui dentro querendo preencher, exercer, fluir, e não me deixa.
Nesses dias que tudo parece nada, e no fundo é mais do que muito sem saber como o ser. Quando a voz parece entalada e existe a sensação de que se abrir a boca o grito sairá incontrolável, e, nada mais impedirá de vibrar pelas cordas vocais, palavras ditas sem sentido, sem razão, por dizer. Já que não sei dizer o que quero, e falar pareça dizer nada, vou escrever ao ermo. Quem sabe gritar pra ele, no silêncio das palavras, me traga uma paz que não preciso, ou que já tenha, mas que a me traga só pra ouvi-la dizer: presente!
Canso dessa vontade infame de correr, sumir, fugir, se esconder. Vou escrever sem por quê. A vida sempre é bela, mas todos têm esses momentos downs, que não os sabemos explicar. Hoje eu resolvi escrever, porque escrever é um tanto mais eficaz.
R. B. Figueiredo