terça-feira, 14 de outubro de 2014

De propósito?

De propósito?


Há várias formas de se limitar ou até retirar por completo a liberdade de um povo; uma delas é através de uma educação financeira que torne a população dependente ou refém do status quo da política econômica e tributária. O povo brasileiro é um exemplo dessa situação.

Com o histórico econômico que o Brasil teve nos últimos 65 anos era de se esperar tal cenário, especialmente os últimos 30 anos. Por quê? Porque os últimos 30 anos são os anos que formaram a maior parte da população economicamente ativa no país.

De 1985 a 1994 o cenário de hiperinflação obrigou os trabalhadores a praticamente utilizar todo o salário do mês no dia do recebimento, pois se esperasse até a semana seguinte era possível que o recebido já não tivesse quase nenhum valor, ou melhor, poder de compra. Portanto, guardar dinheiro era, literalmente, rasgar dinheiro. Ninguém em sã consciência e sem acesso a moeda estrangeira guardaria dinheiro em casa ou no banco, principalmente após o sequestro das poupanças realizado pelo Plano Collor (1990) e a quebra de alguns bancos que levou muita gente à falência. Esse período deixou uma marca na alma de quase toda família brasileira economicamente ativa na época, resultando na consolidada prática atual de não formar reservas.

Resumidamente, os anos de 1994 a 2010 entregou à população brasileira a sensação de segurança, mas não houve uma reeducação para que se adotasse a prática de formar reservas. Principalmente porque a política de expansão da base monetária, constante e em níveis cada vez mais elevados, forneceu a falsa sensação de crédito fácil, e, pelo efeito dominó a, também, falsa sensação de enriquecimento da população. Tal situação formou uma massa de pessoas endividadas (ainda que acreditem não estar endividados por serem “bons pagadores”), não que a utilização de crédito seja algo ruim, mas para se utilizar crédito também é necessário que haja um planejamento financeiro sustentável. Tudo isso somado à cultura de não formação de reservas torna as pessoas dependentes de um emprego que lhes dê um salário fixo todo mês, pois nunca sobra nada. Portanto, a possibilidade de mobilidade dessas pessoas se reduz a quase zero. Contudo, era uma situação razoavelmente sustentável pelo uso do tripé macroeconômico, com o qual era possível que houvesse uma correção menos incisiva sobre os malefícios causados pelos longos anos de incentivo ao consumo desenfreado.

A legislação tributária também não ajuda. Imposto sobre renda e propriedade empobrece e confisca aos poucos o que muitos batalham anos para conquistar. A meu ver – já que não é possível eliminar todo tipo de imposto e taxação – o imposto que mais ajudaria a educar uma população seria somente sobre o consumo, pois incentivaria a formação de poupança e reservas quando consumir se tornasse inviável, e, ajudaria a combater a inflação.

Entretanto os últimos 4 anos (2010 a 2014) em que se abandonou o tripé macroeconômico e se incentivou, de forma irresponsável, o consumo com a justificativa de que impulsionaria a produção interna, além de tantas outras medidas equivocadas (redução dos juros artificialmente, aumentos dos gastos públicos sem responsabilidade fiscal, etc.) vêm mais do que destruindo a economia nacional, mas formando definitivamente pessoas dependentes do status quo.

Em países ou continentes com maior liberdade econômica as pessoas, normalmente, têm o hábito de poupar. Tal hábito os possibilita passar por crises econômicas de forma mais suave, enfrentar melhor um desemprego temporário, ter como pedir demissão para procurar outro emprego, investir em um empreendimento, ou até mesmo mudar de país (em caso de continente) ou estado (como no caso dos EUA em que a política econômica muda de estado para estado) em busca de melhores condições de vida. Essa mobilidade é algo relativamente comum onde há liberdade.

Ao contrário do que muitos pensam o hábito de poupar independe da renda familiar. É apenas uma questão de educação financeira que leva ao bom consumo e autocontrole. Excetuando-se, é claro, em caso de extrema miséria.

Portanto se concluí que a má educação financeira é uma poderosa máquina de produzir escravos que acreditam viver em liberdade. Fica a pergunta: é de propósito?




R. B. Figueiredo