De propósito?
Há várias formas de se limitar ou até
retirar por completo a liberdade de um povo; uma delas é através de uma
educação financeira que torne a população dependente ou refém do status quo da política econômica e
tributária. O povo brasileiro é um exemplo dessa situação.
Com o histórico econômico que o Brasil
teve nos últimos 65 anos era de se esperar tal cenário, especialmente os
últimos 30 anos. Por quê? Porque os últimos 30 anos são os anos que formaram a
maior parte da população economicamente ativa no país.
De 1985 a 1994 o cenário de
hiperinflação obrigou os trabalhadores a praticamente utilizar todo o salário
do mês no dia do recebimento, pois se esperasse até a semana seguinte era possível
que o recebido já não tivesse quase nenhum valor, ou melhor, poder de compra. Portanto,
guardar dinheiro era, literalmente, rasgar dinheiro. Ninguém em sã consciência
e sem acesso a moeda estrangeira guardaria dinheiro em casa ou no banco,
principalmente após o sequestro das poupanças realizado pelo Plano Collor
(1990) e a quebra de alguns bancos que levou muita gente à falência. Esse
período deixou uma marca na alma de quase toda família brasileira
economicamente ativa na época, resultando na consolidada prática atual de não
formar reservas.
Resumidamente, os anos de 1994 a 2010
entregou à população brasileira a sensação de segurança, mas não houve uma
reeducação para que se adotasse a prática de formar reservas. Principalmente
porque a política de expansão da base monetária, constante e em níveis cada vez
mais elevados, forneceu a falsa sensação de crédito fácil, e, pelo efeito
dominó a, também, falsa sensação de enriquecimento da população. Tal situação
formou uma massa de pessoas endividadas (ainda que acreditem não estar
endividados por serem “bons pagadores”), não que a utilização de crédito seja
algo ruim, mas para se utilizar crédito também é necessário que haja um
planejamento financeiro sustentável. Tudo isso somado à cultura de não formação
de reservas torna as pessoas dependentes de um emprego que lhes dê um salário
fixo todo mês, pois nunca sobra nada. Portanto, a possibilidade de mobilidade
dessas pessoas se reduz a quase zero. Contudo, era uma situação razoavelmente
sustentável pelo uso do tripé macroeconômico, com o qual era possível que
houvesse uma correção menos incisiva sobre os malefícios causados pelos longos
anos de incentivo ao consumo desenfreado.
A legislação tributária também não ajuda.
Imposto sobre renda e propriedade empobrece e confisca aos poucos o que muitos batalham
anos para conquistar. A meu ver – já que não é possível eliminar todo tipo de
imposto e taxação – o imposto que mais ajudaria a educar uma população seria
somente sobre o consumo, pois incentivaria a formação de poupança e reservas
quando consumir se tornasse inviável, e, ajudaria a combater a inflação.
Entretanto os últimos 4 anos (2010 a
2014) em que se abandonou o tripé macroeconômico e se incentivou, de forma
irresponsável, o consumo com a justificativa de que impulsionaria a produção
interna, além de tantas outras medidas equivocadas (redução dos juros
artificialmente, aumentos dos gastos públicos sem responsabilidade fiscal,
etc.) vêm mais do que destruindo a economia nacional, mas formando
definitivamente pessoas dependentes do status
quo.
Em países ou continentes com maior
liberdade econômica as pessoas, normalmente, têm o hábito de poupar. Tal hábito
os possibilita passar por crises econômicas de forma mais suave, enfrentar
melhor um desemprego temporário, ter como pedir demissão para procurar outro
emprego, investir em um empreendimento, ou até mesmo mudar de país (em caso de
continente) ou estado (como no caso dos EUA em que a política econômica muda de
estado para estado) em busca de melhores condições de vida. Essa mobilidade é
algo relativamente comum onde há liberdade.
Ao contrário do que muitos pensam o
hábito de poupar independe da renda familiar. É apenas uma questão de educação
financeira que leva ao bom consumo e autocontrole. Excetuando-se, é claro, em
caso de extrema miséria.
Portanto se concluí que a má educação
financeira é uma poderosa máquina de produzir escravos que acreditam viver em
liberdade. Fica a pergunta: é de propósito?
R. B. Figueiredo